Notas do Autor - Capítulo 04

 


Alola, pessoal! Tudo bem?

Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela demora ENORME pra ter escrito e postado esse capitulo. Nesses últimos meses minha vida simplesmente mudou muito de rotina, ritmo e eu falhei em me adaptar e fiquei pra trás em muitas coisas. Escrever foi uma delas.

Pra quem não sabe/lembra, eu estou atualmente cursando uma graduação em engenharia elétrica, um curso integral. Só isso é o suficiente para consumir boa parte do meu tempo. Também assumi a presidência de um projeto de extensão na universidade e ganhei um monte de coisas para fazer nesse tempo. 

Digo tudo isso não para servir de desculpas, mas sim para mostrar que eu simplesmente não abandonei porque eu queria. Acabei ficando esgotado e não queria entregar um capitulo escrito por escrever pra vocês.

Agora as coisas estão melhorando. Não irei prometer um capitulo toda semana porque não será possível. Estou indo para o penúltimo ano do meu curso, além de que a quarentena me esgotou fisicamente e mentalmente. Mas estarei tentando e me esforçando mais e mais para escrever alguma coisinha pra vocês.

Enfim, eu sei que não é um capitulo super mega epico, gigante e com um retorno triunfal, mas é a continuação da historia que eu gostaria de contar.

Espero que não tenham desistido de mim e que não desistam no futuro. Temos uma jornada pela frente que acredito que será divertida de ler e acompanhar.


Muito obrigado aos que leram o capitulo e essas notas. <3



Capítulo 04

 



         Alola era muito popular por seus climas quentes e raios solares brilhantes logo pela manhã, com brisas suaves e umidade agradável. Esse não era o caso da Cidade de Po, localizada na ilha de Ula’Ula. Naquela manhã, uma forte tempestade varria a cidade abandonada e a região próxima dali. Os ventos forçavam as folhas da vegetação local com enorme intensidade e os trovões iluminavam o céu coberto de nuvens escuras. Em momentos como esse, era comum para os habitantes da região tropical ficarem em casa. Alguns inventavam os mais diversos passatempos para esquecerem o clima caótico do lado de fora. Outros apenas aproveitavam para cochilar. As duas figuras que andavam por aquela cidade naquele momento poderiam ser consideradas loucas se fossem vistas pelos moradores locais. Mal sabiam os moradores que a dupla seria louca apenas se não chegassem no horário marcado à enorme casa que ficava no final da cidade.

 O homem de cabelos azulados andava apressado, imaginando o pior quando chegasse ao último andar daquela casa e tivesse que encarar os olhos raivosos de seu chefe. Já a mulher de cabelos róseos ao seu lado andava mais calmamente. Aproveitava ao máximo aquele clima que tanto gostava e, se não fosse pelo seu parceiro ao lado, teria parado para apreciar a chuva por mais tempo. Em poucos minutos já estavam subindo a escadaria que dava acesso àquela enorme casa velha cercada por diversos rabiscos, pichações e infiltrações em sua fachada frontal. Entraram com pressa e avançaram rapidamente para o terceiro andar, tomando cuidado para não torcer os pés nos degraus de madeira que claramente precisavam de reforma e se entreolharam por alguns segundos antes de girar a maçaneta da porta branca para entrar no quarto. 


Um homem de trinta anos permanecia sentado numa poltrona com toda a pompa e a circunstância de um rei, até mesmo a poltrona de couro gasto em que sentava dava a impressão de ser um luxuoso trono. Estava claramente irritado, com as olheiras marcando seus olhos e lhes dando um aspecto profundo e sombrio. Apesar disso, seu cabelo branco desgrenhado e os óculos dourados davam-lhe um ar cômico. Usava uma jaqueta preta que combinava com suas calças largas com detalhes em branco. Em seu braço esquerdo, usava um relógio dourado roubado e carregava em sua pele uma tatuagem incompreensível de cor roxa, cujo significado nunca havia revelado para ninguém. Por fim, vestia uma corrente com um símbolo que se assemelhava à uma caveira igual à dupla que estava a sua frente, com a diferença de a sua ser maior e feita de ouro.

 



 

— E então? O que vocês me trouxeram? — questionou o homem encarando os dois subordinados ali parados com seus olhos frios.


 A dupla se encarou antes de responder. Estavam hesitantes, pois sabiam que a resposta não agradaria o chefe.


 — Não conseguimos nada, chefe Guzma — adiantou-se a mulher. — Aquele desgraçado de fantasia apareceu e acabou com nosso esquema.


 Guzma permaneceu em silêncio, variando o olhar entre as duas faces completamente assustadas que estavam à sua frente. Apesar do silêncio ter durado apenas poucos segundos, entre eles, a sensação era de uma eternidade.


 — Esperava mais de você, Telepathy — comentou o homem com certo desprezo. — Já você, Receiver, continua uma decepção.


 Os dois abaixaram a cabeça e assentiram, concordando com as palavras de seu chefe. Já haviam passado por situações como aquela, então o melhor a se fazer era simplesmente não desafiar a paciência do homem e apenas aceitar as ofensas.


 — Bom, já que os dois conseguiram mostrar o quão inúteis são para mim, caiam fora daqui e não me perturbem pelo resto do dia — Guzma fez um gesto com o polegar indicando a porta. — Chame a Plumeria quando sair, Telepathy.


 Após a porta ser fechada com a saída dos dois capangas, Guzma soltou um suspiro de irritação, socando um dos apoios de seu trono com força.


 — Estou cercado de imbecis nesse lugar.

 


— Vai logo Elio, a gente vai se atrasar! — gritou Selene da porta de sua casa, impaciente com o quão enrolado seu irmão conseguia ser para acordar e se arrumar.

— Eu já disse que tô indo! – Elio tirou a escova de dentes da sua boca para responder o mais alto que conseguiu e voltou a escovar seus dentes com uma animação fora do normal.

— Pra alguém que enrolava o máximo para ir à escola, ele até que tá sendo rápido dessa vez — comentou Alika aproximando-se da porta do banheiro, surpreendendo Selene. — Você conhece o seu irmão o suficiente pra saber como a ideia do tal Ethan mexeu com ele. 


As duas se entreolharam e soltaram uma risada leve, o que fez grande parte da raiva de Selene com Elio passar. O desentendimento com o irmão no dia anterior havia deixado uma mágoa enorme no coração da menina, mas uma boa noite de sono a fez refletir e chegar à conclusão de que era mais fácil se preparar para as próximas vezes que aquilo voltasse a acontecer do que ser presa por assassinato.


Quando Elio finalmente ficou pronto para sair de casa, os irmãos se despediram de sua mãe e entraram no carro de Kukui, que os aguardava pacientemente. Seguiriam até a Escola de Treinadores, onde o professor ajudaria seus primos a fazerem a matrícula. Ao estacionar na esquina do prédio, Kukui desceu do carro e convidou  seus primos para completarem o caminho que restava a pé. 


— Esqueci de mencionar antes, mas tem uma pessoa que eu quero que vocês conheçam. Ele é o neto de um amigo meu e será colega de vocês na Escola de Treinadores — comentou o homem aos garotos. — Ele também é um calouro, então quem sabe vocês não possam se tornar amigos?


 Selene e Elio apenas trocaram um olhar e deram de ombros, silenciosamente concordando com a hipótese de ter outro companheiro pela região de Alola. Próximo do portão da escola, um garoto com a mesma altura de Elio andava em círculos com os braços atrás da cabeça, tentando passar o tempo enquanto esperava por alguém.


 — Alola, Hau! — gritou Kukui enquanto acenava fazendo o cumprimento típico da região se aproximando do garoto. — Esses são meus primos, que eu havia comentado com você!

 


Elio e Selene notaram que aquele garoto parado na frente do portão era o desconhecido que Kukui havia mencionado. Hau era diferente do que ambos haviam imaginado. Era um jovem de dezesseis anos, com a pele escura e os cabelos esverdeados amarrados por um pequeno laço de cabelo. Com exceção de sua camisa preta, suas roupas eram chamativas, com um calção amarelo florido que combinavam com seu sorriso contagiante e levemente infantil.

 Enquanto Selene se preocupava com a ideia de ter que cuidar de outro garoto claramente infantil e inconsequente como o irmão, Elio se animava pela ideia de ter um amigo que pudesse apoiar suas maluquices.


 — Alola, “primos”! — Hau imitou o tom de Kukui e soltou um breve riso com a própria piada. — Vocês não são daqui mesmo, né?


 Hau achou graça em ver os irmãos fazendo um breve aceno de mão como resposta ao seu cumprimento animado, o que deixou os garotos sem jeito.


 — Foi mal, cara. Alola, Hau! — Elio adiantou-se e repetiu o gesto que Kukui havia feito anteriormente, abrindo um sorriso largo em seguida. — Me chamo Elio, prazer em te conhecer.

— Alola, Hau. Me chamo Selene. — Foi a vez da garota se apresentar, limitando-se a um sorriso singelo.

— Bem, agora que vocês já se apresentaram, vamos oficializar a matrícula de vocês — disse Kukui enquanto dava um leve tapinha nas costas de seus primos, incentivando os dois a entrarem na escola. — Tenho certeza que vocês terão muito tempo pra conversar e se conhecer melhor.


 O quarteto passou pelos portões da Escola de Treinadores e seguiram para a Secretaria. No caminho, notaram as grandes quadras esportivas que mais pareciam as arenas de batalha que viam na televisão. Eram quatro arenas separadas por caminhos que levavam à uma enorme área no centro com uma grama incrivelmente verde. Conseguiam notar também as áreas mais afastadas que seguiam para o fundo da escola, com um enorme depósito de lixo na direita com um incinerador que soltava algumas nuvens de fumaça no lado direito e uma área que parecia um depósito do lado esquerdo da escola.


 Após efetuarem a matrícula, Kukui despediu-se dos jovens e os três novos alunos seguiram uma funcionária do local, que os guiava para o auditório onde haveria uma apresentação de abertura para todos os alunos.

Após duas horas de uma palestra que parecia não ter fim, a diretora da Escola de Treinadores terminava de falar sobre como seria o curso de treinamento no qual os Selene, Elio e Hau estavam matriculados: Na primeira semana aprenderiam na teoria sobre batalhas e, na segunda semana, iriam competir em um evento de batalhas Pokémon na escola. O prêmio para o vencedor seria uma Pokédex, fruto da parceria que possuíam com o Laboratório Pokémon de Kukui. A notícia causou uma empolgação em todos os presentes, inclusive o trio recém-formado. O evento de abertura se encerrou alguns minutos antes do almoço, causando um alvoroço na hora de sair, uma vez que todos estavam esfomeados e ansiosos para procurar algo pra comer na cidade.


 — Meu avô me mostrou uma barraca aqui perto que vende a melhor comida que vocês vão experimentar na vida — comentou Hau com os olhos brilhando. — Se chama Malassada, vocês conhecem? 


Os irmãos Keao negaram com a cabeça, sendo puxados pelo braço logo em seguida pelo garoto que os guiava para a rua em direção ao outro lado da rua, onde um foodtruck estava estacionado. Após fazerem seus pedidos e se sentarem em um banco próximo para comerem, Hau não esperou nem um segundo e começou a saborear a Malassada doce que havia comprado. Selene e Elio olhavam a voracidade com que o mais novo “amigo”, se é que já poderiam chamar assim, comia a massa. Decidiram então provar daquela sobremesa que parecia simples demais para ser tão saborosa.

 Assim que deu a primeira mordida, Elio imediatamente fez uma careta de desgosto. Havia achado o gosto horrível e por pouco não cuspiu o pedaço que havia mastigado no chão, mas guardou o pedaço do doce que restava no balcão do caminhão. Já o rosto de Selene expressava apenas dúvidas, não havia gostado, mas também não tinha detestado a sobremesa. Julgou o sabor como simples e sem graça. Diferente de seu irmão, a menina terminou de comer, afinal, já havia gasto dinheiro naquilo e não queria desperdiçar.

 

Elio levantou e, com um dedo em riste na direção de Hau, bradou.


 — Cara, fala sério! – e levou a Malassada na direção do rosto do menino que continuava sentado, degustando tranquilamente a sua unidade do doce. — Você me fez acreditar que ia ser a melhor coisa que eu já comi, isso é uma droga!

 Hau levantou os olhos ao ouvir aquelas palavras que considerou profanas vindas de Elio e ambos começaram uma discussão sobre o sabor da Malassada. De um lado, Hau defendia o sabor, a textura e o valor cultural que aquela refeição tinha. Do outro, Elio tentava convencer Hau de como existiam infinitas outras comidas mais saborosas para se comer.

 Selene revirou os olhos pensando no quanto aquela discussão demoraria se não fosse interrompida, então começou a pensar a melhor forma de encerrá-la.


 — Então, Hau, qual Pokémon você tem? — perguntou a garota, decidida que o melhor jeito seria mudar de assunto e torcer para que os dois se distraíssem o suficiente para esquecer da briga. — Digo, você se matriculou na Escola de Treinadores, então acredito que você tenha pelo menos um, certo?


 Hau imediatamente mudou a expressão em seu rosto como se não estivesse discutindo com Elio segundos antes e abriu um enorme sorriso.


 — Eu tenho um Popplio! Imagino que vocês não conheçam — o garoto caçou uma Pokébola nos bolsos de seu calção e a arremessou para cima. — Foi meu avô que deu de presente. Ele disse que é descendente de uma linhagem muito especial de uma amiga especial dele.

 


A criatura que saiu da esfera era uma pequena foca azul com um enorme nariz rosa e redondo. O Pokémon encarava de forma curiosa Elio e Selene, como se estivesse tentando reconhecer os dois. Em seguida, fechou os olhos e sorriu, grunhindo feliz enquanto batia palmas com suas duas nadadeiras dianteiras. Selene achou que, de algum jeito estranho, a criatura lembrava Hau e, de um jeito mais estranho ainda, combinava com ele.


 Com a discussão sobre Malassadas praticamente esquecida, o trio conversou sobre seus Pokémon. Elio e Selene também apresentaram as criaturinhas que possuíam e isso rendeu um papo entre o trio como se fossem amigos há longa data. Decidiram voltar para a escola quando viram que o horário de almoço estava terminando e foram o caminho inteiro conversando sobre expectativas que tinham para aquela semana.

 Por ser o primeiro dia de aula, a professora da turma havia decidido passar alguns vídeos das primeiras batalhas de treinadores alunos que nos dias atuais eram considerados profissionais como uma forma de inspirar seus alunos. Como os vídeos não foram demorados, acabaram saindo mais cedo da escola. O trio andava junto em direção à saída do portão da Escola de Treinadores, já que Kukui havia combinado com o trio que passaria de carro e deixaria tanto Hau, quanto os irmãos em suas respectivas casas.

 Quando estavam prestes a sair do local, ouviram uma voz infantil e os chamar. O tom era tão baixo e fraco que era um mistério como haviam conseguido escutar o chamado.


 Uma menina que aparentava ter no máximo nove anos se aproximou do grupo. Usava um vestido azul estampado com balões. Um chapéu branco cobria seu cabelo castanho e suas duas tranças que pendiam de ambos os lados da cabeça da criança. 


— V-vocês...  ajuda? — pediu a menina, com uma hesitação clara no olhar e na voz.


 O grupo trocou olhares entre si brevemente antes de responder a garotinha.


 — Claro que podemos — respondeu Elio, abaixando para ficar na altura da criança e se aproximando da mesma.


 Por alguns segundos a menina ficou apenas em silêncio, encarando o chão e abrindo e fechando a boca diversas vezes, como se não soubesse se deveria continuar a conversa.


 — Escola... Fantasma... Medo. — Se Elio não estivesse tão próximo a garota, talvez não tivesse ouvido seu quase sussurro. — Algo errado...


 Elio levantou-se e encarou para a dupla atrás de si, como se esperasse alguma confirmação se o que tinha ouvido era algum tipo de brincadeira. Vendo que ambos os meninos estavam perdidos sobre o que fazer, Selene tomou frente e agarrou a mão da criança após ajoelhar-se em sua frente.


 — Oi, menininha. Onde estão seus pais? Você não é meio nova demais pra estar aqui? — A menina apenas encarou profundamente a mais velha em silêncio. — Fica aqui que a gente já volta, tá?


 Selene se afastou e puxou os dois meninos que haviam começado uma conversa animada sobre as batalhas que tinham assistido mais cedo.


 — Vou ficar aqui com a garotinha e vocês vão procurar o zelador, a coordenadora ou qualquer pessoa responsável. Falem que tem uma menina bem pequena perdida aqui perto da saída.


 Ambos apenas acenaram com a cabeça e voltaram em direção ao prédio da escola, retomando o assunto previamente interrompido. Quando Selene se virou para falar com a criança, a mesma havia desaparecido. Olhou ao seu redor para tentar encontrar a garota, mas a quantidade de pessoas que avançavam em direção a saída não permitia uma visão clara. Começou a andar e procurar, gritando “menina” e “garota”, percebendo que nem ao menos o nome da criança havia perguntado.

 Quando se deu conta, estava do lado de fora da escola, próxima ao meio fio. Avistou, então, uma figura pequena de vestido infantil ao final da rua. Gritou e acenou para a criança, pedindo para que ela voltasse para perto de si onde Selene acreditava ser mais seguro.

 Começou a dar os primeiros passos em direção ao fim da rua quando percebeu que a menina ignorava seu chamado e começava a seguir outro caminho. O som de uma buzina chamou sua atenção. Selene virou-se rapidamente para ver o que era e percebeu que Kukui, Hau e Elio gritavam seu nome e faziam todo tipo de barulho para chamar a atenção da menina.


 — Tá tudo bem ai, prima? — gritou Kukui com a mão curvada em volta da boca numa tentativa de ampliar o som. — Endoidou, foi? Tá falando com o vento?


 A garota voltou sua atenção para o final da rua, mas não voltou a encontrar a criança. Entrou no carro e indagou o motivo de Elio e Hau estarem ali ao invés de estarem na coordenação da escola buscando ajuda. 


— Mas a gente já foi lá — explicou Hau. — A moça falou que iam avisar todos os seguranças para ficarem de olho. Ela também falou alguma coisa de tentar anunciar nos alto-falantes, mas não era certeza de que funcionaria porque eles estavam com problema ou algo do tipo.

— E você? Não ficou com a menina por quê? — foi a vez de Elio perguntar. — Largou a menina sozinha pra ficar gritando no meio da rua?

— Eu não a larguei — respondeu a menina, incomodada. — Enquanto eu estava falando com vocês ela simplesmente saiu correndo e eu acabei perdendo ela de vista.

— De quem vocês estão falando? — perguntou Kukui, que havia ficado calado até então. — Que menina é essa?

— Uma que parou a gente na saída. Ela falou umas coisas meio aleatórias e pediu ajuda — respondeu Hau de forma agitada. — Acho que ela nem sabe falar direito ainda.

— Eu fiquei aqui esperando vocês no carro e vi o momento que vocês saíram da aula. Não vi garota nenhuma na saída.


 Os jovens trocaram olhares entre si, confusos. Em seguida, uma discussão entre os quatro sobre a aparência da menina e como ela havia aparecido começou, com Elio, Selene e Hau ouvindo de Kukui que ele havia chegado mais cedo e não havia visto ninguém com uma criança pequena ali perto.

 Após alguns minutos, o professor simplesmente se deu por vencido e começou a dirigir, alegando que os jovens ficaram muito tempo expostos ao Sol.  Um silêncio se instaurou no carro e assim permaneceram os três mais novos, absortos em seus próprios pensamentos, forçando ao máximo suas memórias para provarem a si mesmos que não estavam inventando coisas.

 

E talvez não estivessem mesmo.




Notas do Autor - Capítulo 03


Alola! Tudo bem com vocês?

Bom, primeiramente quero me desculpar pela demora que teve para sair esse capítulo. A faculdade me consumiu e tive que focar muito nela e nos projetos para garantir que tudo saísse como planejado. Tudo deu certo e para o ano que vem estou me programando melhor para poder soltar capítulos com mais frequência para vocês!

O capítulo em si não tem coisas tão bombásticas, mas é importante para o que está vindo pelo futuro! O terreno de muitos acontecimentos estão sendo preparados aqui então fiquem atentos!

Espero que tenham gostado da pequena surpresa e vejo vocês no próximo capítulo!

Alola!

Capítulo 03



Em uma mesa redonda sob a sombra de um guarda-sol, dois homens sentavam em duas das quatro cadeiras ali dispostas. O cabelo grisalho de ambos era uma evidência de suas idades avançadas. O mais velho deles era um senhor de pele escura e olhos que se forçavam a manterem-se abertos. Usava uma regata azul com uma enorme blusa amarela florida por cima, assim como uma faixa grossa de algodão que utilizava como um cinto que dava a volta em sua enorme barriga e mantinha as calças firmes em sua cintura. Ele estava acima do peso, mas era um cara forte, o que o tornava intimidador, mas sua feição apenas demonstrava preocupação e cansaço no momento.



O outro homem que sentava na cadeira adjacente era o oposto de Hala. Nanu possuía uma pele incrivelmente pálida, resultado do pouco tempo que passava fora de casa durante o dia, preferindo muito mais agir durante a noite. Era magricela e não era forte como o amigo ao seu lado, mas seus olhos vermelhos como rubi eram sua arma secreta para intimidação. Trajava um uniforme policial preto com uma camisa lisa vermelha por baixo.  Diferente do primeiro, sentava na cadeira de forma desleixada, parecendo não ligar para o motivo da reunião que faziam ali.



Ambos bebericavam o chá em suas xícaras enquanto aguardavam o terceiro membro daquela reunião. Ou, sendo mais exato, a terceira participante. Estavam quase terminando as bebidas quando viram a mulher se aproximando o mais rápido que podia naqueles saltos.

A mulher que se aproximava, assim como Hala, possuía uma tez escura. Entretanto, os raios de sol que iluminavam sua pele a deixavam com um aspecto radiante e cheia de energia. Seus cabelos curtos e negros esvoaçavam levemente com a brisa leve que soprava. Suas vestimentas rosas mostravam muito o seu corpo definido e malhado, o qual era adornado por braceletes, pulseiras, colares e brincos. Todos possuíam alguma pedra valiosa e brilhante que facilmente chamava atenção. Mas Olivia não ligava, gostava de destacar a sua juventude, principalmente por ser a mais nova daquele grupo.


           
— Nunca te ensinaram que é falta de educação deixar os mais velhos esperando? — perguntou Nanu, com sua voz rouca e baixa e um sorriso malicioso no rosto.
— Eu tive problemas no caminho, Nanu — A mulher respondeu de forma simples. — Não vou cair nas suas provocações nessa reunião que imagino ser importante.
— Olivia tem razão — Hala colocou sua xícara na mesa e encarou os dois. — Chamei ambos aqui para discutirmos um tópico urgente que vocês já devem ter percebido. Sente-se, Olivia.

A mulher atendeu ao pedido do mais velho e sentou-se na mesa, logo recebendo sua própria xícara do famoso chá de Malie.

Não era incomum os Kahunas de Alola se encontrarem para discutirem assuntos relacionados à suas responsabilidades como guardiões da ilha ou simplesmente para conversarem como bons amigos. Contudo, aquela reunião de emergência convocada por Hala não era uma situação corriqueira, então Olivia e Nanu prontamente atenderam ao chamado para se reunirem no Jardim de Malie, na Ilha de Ula’ula.

 — Imagino que ambos já saibam da notícia que está correndo por toda Alola — começou Hala, cruzando seus braços e encarando os dois amigos com seriedade. — Os guardiões tem sido vistos com muita frequência pelo povo de Alola e, como vocês sabem, não é uma atitude normal de criaturas reclusas como as deidades.
— Concordo – Olivia concordou com a cabeça e continuou a conversa. – Semana passada, ouvi alguns clientes na minha loja fofocando sobre terem visto Tapu Lele vagando pelas ruas de Konikoni. Três dias depois soube que um grupo de turistas foi atacado por uma força violenta e rosa.
— Ouvi que Tapu Bulu foi avistado nos Jardins de Ula’ula — completou Nanu, dando de ombros. — Talvez eles só tenham decidido serem mais sociáveis.

Nanu soltou um riso com sua própria piada, sendo repreendido logo em seguida por Hala.

— Não é hora pra brincadeiras, Nanu — afirmou o Kahuna de Melemele com seriedade em sua voz. — Alguma coisa deve ter acontecido para os guardiões terem começado a aparecer para as pessoas.
— Talvez eles estejam procurando o Kahuna da Ilha de Poni? — sugeriu Olivia, chamando a atenção dos dois senhores da mesa. — Espera aí, vocês não sabiam?

Ambos os homens negaram com a cabeça, incentivando a mulher a continuar contando o que sabia daquela informação que era novidade para ambos.

— Há duas semanas, mais ou menos, o Kahuna despareceu. Não falou com ninguém, não deixou nem pistas de para onde foi. A neta dele, Hapu, prestou uma queixa à polícia. Achei que você sabia disso, Nanu.
— Ultimamente estive ocupado com um caso — Nanu disse de forma breve, desinteressado em dar explicações sobre seu paradeiro. — E agora, hein? Além das fadinhas dando uma de celebridade e tendo ataques de estrelismo, agora também temos um Kahuna desaparecido. Alguém tem alguma ideia do que fazer?
— Bom, se a polícia foi avisada como Olivia disse, o desaparecimento dele não é uma preocupação imediata nossa — Hala aproximou-se da mesa e apoiou seus cotovelos no móvel. — Precisamos fazer algo para chamar a atenção dos Tapu e acalmá-los.
— E o que você sugere? — Olivia colocou sua xícara vazia na mesa.
— Um torneio. O vencedor ganhará o amuleto e a responsabilidade de fazer o Desafio das Ilhas. Acredito que o reviver de uma tradição antiga possa acalmar os guardiões.
— Faz tempo que ninguém tem interesse em participar do desafio, velho — contestou Nanu. — Ninguém vai querer participar desse torneio.
— Então vamos dar um incentivo. Vamos organizar um enorme festival em Iki. Convidamos várias pessoas, incluindo os jovens, e anunciamos o torneio. Para o vencedor nós oferecemos o amuleto e uma Pulseira Z.

Tanto Olivia quanto Nanu olharam Hala com os olhos arregalados, tendo sido pegos de surpresa pelo anúncio. Achavam que o velho havia endoidado de vez por oferecer um item tão precioso e forte quanto uma Pulseira Z.

— Você quer que eu te leve para o manicômio?! — gritou Nanu. — Não podemos oferecer isso para qualquer um!
— Não é qualquer um, Nanu — Hala respondeu calmamente. — É para o vencedor do torneio. Obviamente será um treinador forte.
— Não tenho tanta certeza disso, Hala. — Dessa vez foi a vez de Olivia contestar seu amigo. — Tem certeza de que estaríamos dando uma Pulseira Z para a pessoa certa? Pense no que os guardiões iriam pensar disso tudo.
— No momento não temos muitas opções, Olivia. — Hala retirou um objeto semelhante ao qual os três Kahunas reunidos ali usavam em seus pulsos. — Se os Tapu realmente estiverem zangados ou incomodados com algo, falar com eles não irá nos ajudar em nada. Talvez traga até mais fúria.
— Serei sincera, Hala Não sou fã de sua ideia maluca de entregar uma Pulseira Z aleatoriamente, ainda mais sem a consulta dos guardiões da ilha. — Olivia deu um pequeno sorriso para Hala. — Mas, apesar de tudo, confio em você.
— Então você pode se juntar a ele no hospício, Olivia — Nanu levantou-se da mesa. — Se a reunião já acabou e vocês decidiram o que fazer, vou voltar ao meu trabalho. Alola para vocês, doidos de pedra.

Nanu andou vagamente até sair da vista dos outros dois Kahunas. Apesar da resposta do homem, Olivia e Hala sabiam que aquele era seu jeito de expressar o carinho por ambos e dizer “estou dentro”.




Selene andava apressada, com passos fortes e os punhos fechados. A cara da garota era de poucos amigos e, guardava tanta raiva em seu olhar que fuzilava qualquer um que ousasse cruzar seu caminho. Desde que haviam se afastado de toda a confusão, Selene não havia dito uma palavra. A garota apenas retornou seus Pokémon para suas devidas Pokéballs e seguiu em direção à sua casa. Selene sabia que, quando ficava com raiva e frustrada, sua melhor opção era o silêncio. Sabia que era capaz de dizer coisas indesejadas e venenosas caso resolvesse discutir naquele momento e, sendo assim, aproveitou aquela longa caminhada de volta ao lar para esfriar a cabeça, torcendo para que seu irmão não piorasse a situação.

Elio, por sua vez, andava um pouco mais atrás de Selene e em passos mais vagarosos. O garoto estava sentindo um misto de emoções e parecia que estava de volta no começo de sua adolescência. Sentia raiva pelo fato de ter sido roubado e atacado logo no primeiro dia que decidiu dar uma chance para a nova região. Sentia-se frustrado por não ter sido capaz de defender sua irmã, seus Pokémon e nem a si próprio. E, acima de tudo, sentia-se triste por estar em Alola. Tinha certeza que se tivesse ficado com seu pai em Kanto, nada disso teria acontecido e estaria em uma jornada alegre e tranquila pela região. O rapaz também se sentia culpado por ter atrapalhado sua irmã. Sabia que o importante era que ele tentou ajudar e que no final acabou tudo certo, mas queria ao menos ter feito algo que fosse digno de um mero elogio da mais velha, ao invés de, novamente, ter agido por impulso e ter ficado com a imagem de cabeça de vento para Selene.

Após um longo e desconfortável silêncio no caminho para casa, quando os irmãos estavam a alguns metros da porta de entrada, ouviram uma voz familiar gritando seus nomes.

— Elio! Selene! Esperem ai! — Kukui gritava, correndo numa velocidade incrível e se aproximando rapidamente. — O que aconteceu? Vocês dois estão bem? E aqueles idiotas da Skull?

Era palpável o tom de preocupação na voz do professor, preocupado com a situação de seus primos que mal haviam chegado em seu novo lar e já presenciaram a desgraça.

— Estamos bem, primo — Elio respondeu para o homem com a voz um pouco mais desanimada e baixa do que o normal. — Um cara mascarado apareceu e ajudou a gente. Estamos bem.
— A sorte também nos ajudou, Kukui — dessa vez, foi a hora de Selene falar. — Porque se dependesse do Elio, estaríamos no mínimo no hospital e sem Pokémon.
— Pelo menos eu tentei ajudar e não fiquei criticando ninguém por isso — Elio rebateu com rancor em sua voz. — Porque se dependesse de você, ainda estaríamos parados igual dois Sudowoodos pensando na morte da Miltank.
— Será que dá para os dois pararem de jogar a culpa um no outro e focar no que é importante? — O tom de voz de Kukui ganhou um tom sério e de advertência — O que importa é que ambos estão bem e com seus Pokémon, certo?

Os olhos castanhos do homem alternavam entre Elio e Selene, aguardando uma confirmação, que acabou recebendo depois de alguns segundos de silêncio dos irmãos.

— Venham — chamou Kukui. — Vamos até a casa de vocês e lá conversamos com mais calma.

O rapaz começou a andar calmamente, com os braços cruzados atrás de sua cabeça demonstrando uma calma invejável. Não conseguia ver o que se passava em suas costas, mas sabia que eventualmente seus dois primos começariam a segui-lo.

Já na casa dos Keao, Akila preparava um chá para seus filhos e Kukui. Os três estavam sentados na pequena mesa que ficava na varanda da casa. Selene e Elio sentavam em cadeiras opostas, evitando o contato visual um com o outro.

— Vocês dois não são velhos demais para ficar com essa birra infantil? – provocou Kukui, colocando seus óculos em cima da mesa e pegando um pequeno leque para se abanar. — Vocês ficam insuportáveis quando ficam assim.

Elio deu de ombros para o comentário do mais velho enquanto Selene apenas se limitou a virar o rosto para encarar o distante mar azul.

Akila chegou com quatro xícaras de chá em uma bandeja e distribuiu para todos que estavam na mesa. Por fim, pegou sua xícara e sentou-se também. Não sabia do incidente envolvendo seus filhos, apenas se preocupava com o fato de que ambos haviam brigado e agora teria que resolver aquela situação.

— Bom; – começou a mulher. — Alguém pode me explicar o que aconteceu?

Elio, mesmo a contragosto, começou a contar a situação para sua mãe, desde o momento que saíram de casa até a aparição do misterioso homem mascarado.

— E vocês não vieram me procurar por qual motivo exatamente? — A matriarca olhou de forma severa para seus dois filhos, mas não deixando de demonstrar a preocupação em seu tom voz.
— Desculpa mãe — Selene abaixou levemente a cabeça e deu um breve suspiro. — Foi tudo tão rápido e cheio de adrenalina que mal tive tempo de raciocinar direito. Deveria ter sido mais responsável como irmã mais velha.
— Eu entendo querida, não se culpe pelo o que aqueles dois arruaceiros fizeram. Mas da próxima vez quero ser informada na mesma hora.

Ambos os irmãos concordaram com a cabeça e tomaram um gole do chá preparado pela mãe.

— O que você acha que devemos fazer, Kukui? — Akila perguntou, trazendo o sobrinho para a conversa.
— A única solução possível é mudar de volta para Kanto — brincou Elio antes mesmo que Kukui terminasse o pensamento.
— Já conversamos sobre isso, Elio. Não iremos voltar tão cedo.

O garoto limitou-se a bufar e deixar seu corpo cair na cadeira. Focou toda sua atenção para uma fruta que estava na mesa e começou a divagar perdido em seus pensamentos.

O que diabos eu fiz para ser castigado desse jeito?”, pensava o garoto, desejando que todo aquele pesadelo acabasse o mais rápido. Não odiava Alola por completo, inclusive achava um ótimo lugar para se passar alguns dias, como uma ou duas semanas de férias. Mas abandonar toda a história que construíra em Kanto junto com seus amigos e sonhos? Isso já era demais.

Havia decidido na primeira noite que passou em Alola que daria uma chance para a região como sempre fazia com novas experiências. Tinha esperanças, mesmo que poucas, que acabasse gostando muito e eventualmente a saudade de casa passaria.

Mas isso não aconteceu.

Ao contrário do que esperava, acabou tendo péssimos momentos logo no primeiro dia que decidiu dar uma volta para conhecer o lugar. Não é como se não houvesse criminalidade em Kanto, mas com toda certeza nunca havia passado por uma situação parecida em toda sua vida. Por mais bobo que aquilo parecesse para quem estava de fora, a sensação de quase ter perdido um presente que seu pai lhe dera fora horrível para o garoto. Pior ainda era saber que poderia ter se machucado e, pior ainda, machucado sua irmã junto.

Elio teria continuado sua linha de pensamentos soturnos se não houvesse sido interrompido pelo som da campainha ecoando pela casa. Um alto e forte “está aberta” foi proferido por Akila, incentivando a visita a abrir a porta.

Demorou apenas alguns segundos para a porta começar a se mover e revelar uma figura masculina alta. Aparentava ser um jovem com não mais de vinte anos, emanava um ar de jovialidade, complementado pelo seu cabelo arrepiado, tendo parte de seus fios negros cobertos por um boné. Percorreu com os olhos o ambiente, analisando cada rosto com calma como se estivesse procurando algo. Enfim, repousou seu olhar quando avistou Kukui. Encarou o professor por um tempo maior do que os outros e chamou hesitante:

— Professor Kukui? – perguntou o rapaz com sua voz calorosa abafada pelo tom de seriedade. Quando recebeu um rápido aceno positivo do rapaz, continuou: — Preciso falar com você.

Virou-se para a porta e seguiu para fora da casa.  A família que havia ficado para trás apenas se encarava com olhares de dúvidas, buscando respostas um no rosto do outro. Kukui simplesmente deu de ombros e levantou-se, seguindo na mesma direção do rapaz misterioso.

— Bom, enquanto Kukui resolve os assuntos dele, quero ajuda para terminar de arrumar a casa. Selene, você poderia arrumar as coisas que estão naquela caixa? — A mulher apontou para uma enorme caixa vermelha em cima do sofá. — Elio, você pode levar essas caixas vazias para garagem?

Os irmãos concordaram com a cabeça e dirigiram-se para realizar as tarefas que sua mãe havia pedido. Selene, já mais calma, andou suavemente até o sofá. Já Elio, com passos extremamente vagarosos, esforçou-se para pegar as várias caixas que, embora vazias, exigiam certa força para serem transportadas.

Quando terminou de colocar as caixas em seu devido lugar na garagem, não conseguiu evitar olhar na direção onde seu primo estava conversando com o estranho graças a porta da garagem aberta. Apesar de sua consciência dizer que deveria deixar seu primo com os assuntos pessoais dele, sentia-se curioso em saber do que se tratava.

Não era totalmente errado querer saber o que um estranho que entrou na sua casa e encarou sua família queria, era?

Respirou fundo e se encheu com cinco segundos de coragem insana e seguiu na direção da dupla, tentando atrair o mínimo de atenção possível para si. Aproximava-se devagar com passos leves em direção a um arbusto que ficava próximo o suficiente para tentar ouvir a conversa sem ser visto. Ajoelhou-se atrás da folhagem e concentrou sua audição o máximo que podia, tentando captar qualquer coisa que fosse dita na conversa. Conseguia ouvir apenas nomes que não era capaz de identificar e a frustração estava cada vez maior.

Quando se aproximou mais para ouvir melhor, arrepiou-se ao sentir uma mão tocar seu ombro e um sussurro que arrepiou todo seu corpo.

— Você acha bonito espionar a conversa dos outros? — ralhou Selene, com um olhar de repreensão ao irmão.
— Você também está escondida e sussurrando, então não venha se achar a santinha da história!
— São motivos totalmente diferentes, eu não... — A garota parou de falar imediatamente ao ouvir uma frase que chamou a atenção de ambos os irmãos.
— Um clarão no céu na noite de ontem? — ouviram Kukui repetir, tentando assimilar o que foi dito pelo rapaz que conversava com o professor. — Desculpe-me, mas não vi nada.

Elio virou para a Selene com os olhos levemente arregalados e atropelou-se nas palavras tentando sussurrar:

— Um clarão? Deve ter sido o mesmo que a gente viu! Sel, esse cara ai também viu!
— Shh! — repreendeu Selene, aproximando o indicador à boca em um sinal para que seu irmão fizesse silêncio. — Eu entendi Elio, mas se acalma porque você está falando alto!
— Você que tá falando alto! — retrucou Elio, dando um leve empurrão em Selene.
— Para, moleque petulante! — Selene revidou com um tapa na cabeça do irmão.

Ambos começaram a se provocar cada vez mais e em dado momento Elio acabou escorregando e caindo para trás no arbusto, balançando a planta com força e fazendo um barulho que acabou chamando a atenção dos dois homens que conversavam ali perto.

— Se vocês queriam tanto fazer parte da conversa, era só ter avisado como pessoas normais — avisou Kukui, soltando uma risada descontraída logo em seguida. – — Bisbilhotar é uma coisa nada descolada de se fazer.

Selene e Elio se levantaram e seguiram em direção a Kukui, mantendo ainda uma distância do homem que apenas observava a situação com curiosidade.

— Primeiramente, vamos às apresentações. Esses dois bisbilhoteiros enxeridos são meus primos, Elio e Selene.

Os irmãos limitaram-se a acenar, ainda envergonhados por terem sido pegos ouvindo a conversa alheia.

— E esse rapaz aqui se chama Ethan.

Ao ouvir o nome do rapaz, foi como se uma onda de choque atingisse Elio e fizesse todos seus neurônios trabalharem. Ao ouvir aquele nome, foi como se um quebra-cabeças começasse a se resolver em sua mente.  Sentia-se idiota por não ter reconhecido aquela figura anteriormente.

— Ethan? O Ethan de Johto? — perguntou Elio, um pouco hesitante em continuar. — O mesmo Ethan, aquele treinador lendário e famoso?
 — É, esse sou eu. — Ethan deu um sorriso envergonhado ao ouvir alguém se referindo a ele como “lendário”. — Bom saber que as crianças de hoje em dia são bem informadas.
— Ei, eu não sou criança! — respondeu Elio levemente ofendido. — Eu tenho dezesseis anos!
— Viu? Uma criança ainda — brincou Ethan tentando deixar o clima mais leve. — Eu já sou um adulto de dezenove anos!
— Com a mentalidade de uma criança de dez anos — debochou Selene, rindo brevemente com sua própria piada.
— Escuta aqui, garotinha. Eu normalmente responderia seus insultos, mas tenho assuntos sérios para resolver. Se vocês não vão contribuir com nada, então são apenas perda de tempo — retrucou o rapaz coçando a sobrancelha esquerda, visivelmente impaciente.
— Nós também vimos o clarão no céu – explicou Elio. — Estávamos na praia quando vimos as luzes.
— Com isso sei que pelo menos eu não estou louco — concordou Ethan. — Viram mais alguma coisa?
— Só as luzes mesmo.
— Certo. — Ethan arrumou seu boné na cabeça e se preparou para ir embora.  — Vou procurar esse pessoal do qual você me falou, professor. Muito obrigado.
— Ei, espera aí. Você está investigando essas luzes?  — Elio se aproximou de Ethan e o segurou pelo ombro. — Eu quero ajudar também. Além de estar curioso para saber o que é, você pode me ajudar em batalhas Pokémon.

Ethan olhou fixamente para Elio com um misto de confusão, dúvidas e hesitação. Fechou os olhos como se estivesse perdido em pensamentos e, quando voltou a abri-los, respondeu de forma simples:

— Não.
— Mas por quê?
— Porque se for algo perigoso, não quero ter que ficar com a responsabilidade de cuidar de mim mesmo e de outra pessoa.
— Mas aí você me ensina a batalhar e eu cuido de mim mesmo!
— Olha, Elio — Ethan segurou os dois ombros do garoto teimoso parado a sua frente. — Você parece um cara legal e cheio de potencial, não me entenda mal. Mas acho que se você quiser aprender sobre batalhas deveria começar pelo básico.

Elio limitou-se a abaixar a cabeça e soltar um longo suspiro.

— E como eu faria isso?
— Tem uma Escola de Treinadores Pokémon na Rota 1. Vi quando eu estava vindo para cá.
— Escola? Acabei de terminar meus estudos, cara — Elio revirou os olhos. — Não quero ter que estudar mais ainda.
— Essa não é uma escola para passar o dia inteiro enfiado nos livros — o rapaz pegou um panfleto que estava guardado em seu bolso e mostrou para o garoto. — Eles ensinam táticas e dicas de batalhas na prática. Você só precisa ir com seu Pokémon, se inscrever e pronto.
— Acho perfeito pra você, Elio — Selene entrou na conversa com um falso tom de animação. — Quem sabe isso não te ajuda a ficar menos tapado nas batalhas?
— E quantas batalhas você venceu até agora, garota? — Elio virou para Selene e a desafiou com o olhar.
— Uma. Mas é a mais importante: Derrotei você com graça. — Sorriu convencida e deu uma piscada breve para o irmão.
— Estou lisonjeado por saber que você me considera a coisa mais importante na sua vida – retrucou Elio, sorrindo vitorioso por usar as palavras da irmã contra a mesma. — Mas ainda assim, você não ganhou de mim.
— E que tal vocês dois fazerem o curso primeiro e depois se resolverem numa batalha? — Kukui ficou entre os irmãos, fazendo um sinal de “pare” para ambos. — Essa intriga de vocês já está ficando chata.

Ambos os irmãos Keao limitaram-se a apenas a um encarar o outro, em uma trégua mútua de brigarem apenas no campo de batalha.

— E quando eu ficar mais forte e derrotar a nerd aí, eu vou te ajudar, Ethan! — Elio bateu no próprio peito com confiança.
— É, claro... Vai ajudar sim. — Ethan esfregou a própria nuca com uma das mãos e deu um sorriso sem graça.
— Vamos logo, então! — bradou Elio, carregado de empolgação. — Estou fervendo de animação para a volta às aulas!

E Selene apenas maneou com a cabeça, começando a movimentar as engrenagens de sua cabeça, pensando em como combinar sua mente que considerava brilhante aos ensinamentos que conseguiria na Escola Pokémon.

Estava ansiosa para sair coroada como campeã daquele lugar.



     


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